Para Vocês...
O céu, as estrelas, o mar, e "só" um pedaço da lua. Porque a outra metade já é minha... (risos)!


5 de jun. de 2010

Ultimamente através do meu hotmail tenho recebido inúmeras mensagens repetidas. Inúmeras mesmo! Coisa de louco! Termino por fazer o download e novamente vem aquela mesma mensagem, o mesmo texto, a mesma música, os mesmos slides... Parece até aquela marchinha de Carlos Imperial cantado por Ronnie Von: “A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim...” (risos)! Mas é isso, quem advinha? Só que hoje recebi umas mensagens bem bacanas; e em especial, um texto bem interessante que gostei muito, e que agora, compartilho com vocês. O autor chama-se Rodrigo Constantino: Economista, escritor de vários livros, e escreve artigos para diversos sites.
Vejam...

A pseudo-humildade como forma de arrogância
Rodrigo Constantino

No filme Dogville, a personagem de Nicole Kidman, Grace, foge de um pai mafioso e encontra refúgio numa pequena vila, onde todos parecem boas pessoas. No começo, esta impressão permanece, mas no decorrer do tempo cada um dos moradores, ciente da docilidade passiva da fugitiva, e de sua dependência do abrigo que oferecem a ela, começa a abusar da pobre coitada. A escalada de abusos foge de qualquer padrão razoável, e ela se transforma literalmente numa escrava, incluindo a função sexual. Os moradores são, afinal, humanos, demasiado humanos, sob a influência de todas as paixões perversas que afetam os homens.Mas a personagem de Nicole suporta cada um dos abusos, não por medo do pai, mas por uma sensação de superioridade moral um tanto cristã. Oferecer a outra face, eis o que ela literalmente faz. Não julgar para não ser julgado parece sua máxima. Colocando-se neste papel, ela tolera toda a violência contra seu corpo e mente. Mas a arrogância de sua postura vem abaixo quando seu pai finalmente vai ao seu encontro. O
diálogo dos dois é a parte alta do filme. Ele mostra a ela como a verdadeira arrogante é ela mesma, por se colocar neste pedestal sobre-humano, acima do bem e do mal, do certo e do errado. Ao aturar cada um dos atos de abuso sem reação, Grace está tentando posar como nobre, como superior a todos eles. Ela se coloca como alguém capaz de perdoar nos outros atos que jamais aceitaria perdoar nela mesmo. Encara aquelas pessoas como vítimas das circunstâncias, como cães cuja natureza é aquela mesmo. Para Grace, seus estupradores e torturadores estavam apenas fazendo o melhor possível. Seu pai, então, questiona se este melhor possível era bom o suficiente. Ele pergunta se ela faria o mesmo julgamento fosse ela do outro lado, como autora daqueles atos abomináveis. Com isso, ele mostra que ela era a verdadeira arrogante, no fundo, a pessoa mais arrogante de todas! Convencida pelos argumentos do pai, ela não apenas aceita que matem todos na vila, como faz questão de ver alguns sofrendo durante o ato de vingança. Ela rompeu a casca de hipocrisia e voltou a ser humana, demasiada humana. Ela resolveu fazer justiça, em vez de oferecer a outra face. Ela julgou e condenou os seus carrascos, em vez de suspender qualquer julgamento pela impossibilidade de sabermos o que é certo ou errado. Com a ajuda do seu pai, ela finalmente compreendeu que toda aquela humildade era falsa, uma das piores formas possíveis de arrogância. Sempre me lembro deste filme quando vejo algumas pessoas desfilando uma pseudo-humildade típica dos mais arrogantes. “Só sei que nada sei” pode ser uma idéia realmente saudável, para despertar humildade legítima em seres falíveis. Mas pode muitas vezes ser também uma tática de posar como o verdadeiro sábio, aquele que, afirmando a ignorância, pretende conquistar a imagem de inteligente. Alguns relativistas negam a possibilidade de sabermos o que é certo ou errado, com uma certeza dogmática de que eles estão certos, com a razão. Dizem que não devemos julgar os outros, já fazendo um julgamento duro contra todos aqueles que discordam. Pregam a tolerância à diversidade, intolerantes com todos aqueles diferentes deles. Os hippies da Nova Esquerda que surgiu nos anos 1960 nos Estados Unidos podem ser um bom exemplo. Diziam-se não-conformistas, mas prezavam a conformidade acima de tudo. As roupas e os cabelos iguais eram uma maneira de expressar valores comuns, uma forma similar de ver o mundo. Os símbolos da paz podiam representar algo bem diferente de uma suástica nazista, mas ambos eram uma espécie de insígnia, facilmente reconhecível para a identificação de um companheiro. As comunidades hippies, segregadas do restante da sociedade, eram ambientes confortáveis para seus pequenos grupos, que não gostavam muito da idéia de conviver com as diferenças. Os hippies eram muito tolerantes, mas não toleravam um típico ícone do capitalismo ocidental. Se for provável que um empresário com terno e gravata tivesse preconceito contra um hippie naquela época, não é menos provável que a recíproca fosse verdadeira. Quando estou diante de alguém que afirma aos quatro ventos que é bastante tolerante, que celebra a diversidade, que não costuma julgar ninguém, que somos todos incapazes de reconhecer o certo e o errado, eu redobro minha desconfiança natural. Existem exceções, mas normalmente são pessoas intolerantes, que adoram a conformidade, que julgam todos à sua volta, e que têm certeza de que estão certos. Tanta humildade assim, comunicada abertamente com um orgulho visível, costuma ser um disfarce para uma extrema arrogância.

Um comentário:

  1. Muito Bom!
    Mas o autor poderia ter sido menos explicativo deixando de explorar o filme até o final.
    É você estar na entrada do cinema e saber que o maior personagem morre no final.

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